Me localizar na “fronteira relacional dos trabalhadores” ao longo da minha trajetória acadêmica e laboral, em especial nesses últimos 06 anos atuando na recuperação ambiental nos “Territórios de Desastre” (de afetação e de impacto) do Rio Doce e de Mariana, me possibilitou elaborar um método de pesquisa inovador, que coloca o trabalhador não só no centro das decisões enquanto objeto de estudo, mas que permite ao trabalhador ser pesquisador e protagonista na elaboração de estudos sobre suas condições de trabalho.
Por meio de um “saber localizado” nesta fronteira relacional posso contribuir, enquanto pesquisador-trabalhador, dando foco nas vivências da força do trabalho, a fim de potencializar o entendimento sobre as dinâmicas das afetações sociais que se estabelecem nos “Territórios de Desastre”. Territórios que possuem uma complexa singularidade (cada território é único). Territórios disputados por atores sociais (stakeholders) que possuem forças desiguais, os quais interagem e se correlacionam mediante a interesses que podem ser distintos (ou não). Atores sociais que formulam “enquadramentos categóricos” próprios, conforme sua leitura territorial.
Vivenciar “temporalidades e espacialidades distintas, diacrônicas e esfaceladas” nesses territórios é evidenciar uma premissa básica que se estabelece nos contextos das catástrofes ambientais, latente na fronteira relacional dos trabalhadores: “onde há afetação, existem afetos e se constroem os afetados” (CRUZOLETTO, 2022).
Escrito por João Vitor Cruzoletto (18/10/2023).